Só no primeiro semestre SUS registrou 152 casos de violência domestica em Ubatuba. Em 10 anos, 1500 casos
A Câmara de Ubatuba está participando da Segunda Semana de Luta contra o Feminicídio e Violência Doméstica acolhendo palestras e manifestações, conforme projeto de lei do vereador Junior Jr., aprovado em plenário no ano passado.
Presidente do Instituto “”Todas por Uma”, a empresária Priscila Hunck falou da Tribuna que “a realização desta segunda semana é uma grande vitória. Nossa legislação tem evoluído muito nesse sentido, no apoio à mulher em situação de violência. Mas o que nós temos que refletir hoje é que mesmo com essa evolução isso não impede que o Brasil esteja no ranking de 5º Pais onde mais se mata mulheres”.
Priscila lembrou que “o feminicídio é tipificado em lei como crime por questão de gênero ou seja, essa violência ocorre simplesmente pelo fato de ser mulher e citou o nome de Sheila Oliveira, uma das vitimas daqui de Ubatuba e com o nome dela, lembramos todas as vítimas locais”.
Ela entende que “como representante do Conselho Municipal das Mulheres tenho essa responsabilidade mas todos nós temos nossas responsabilidades de construir uma sociedade segura para nossas meninas e mulheres. É daqui desta Casa de Leis que partem as iniciativas de criar novas leis nesse sentido.”
Para a presidente do Instituto Todas por Uma “há vários tipos de violência contra as mulheres. Há assédio no ambiente de trabalho, nas repartições públicas, há a violência psicológica e a física. Temos que construir mecanismos que coíbam esses atos”, enfatizou, citando várias iniciativas em Ubatuba de atenção à mulher com destaque para a “Patrulha Maria da Penha”, da Policia Militar que se tornou referência em todo o Litoral Norte e também com o trabalho da Delegacia da Mulher onde temos uma mulher atuando como delegada”,
Priscila concluiu pedindo um minuto de silêncio por todas essas vítimas.
O MEDO DE CADA UMA –
“Se fecharmos os olhos para agressores e abusadores, a violência continuará”
Barbara Ilário, psicóloga do Núcleo de Atenção à Mulher, falou na sequência dizendo que “ela cuida da saúde mental das mulheres sob condição de violência e todos os dias eu escuto relatos de las, sinto todos os dias o medo de cada uma, medo de contar para a família que queremos nos separar, medo de contar pro grupo de amigos que aquele cara que se acha super legal força mulheres a fazerem sexo com ele, medo daquele patrão que quando estamos perto dele, ou entra na sala dele, ele passa a mão na gente”.
Ela informou que “trabalha no SUS, onde, só no primeiro semestre de 2022 registrados 152 casos de violência contra a mulher no sistema em Ubatuba, envolvendo ai violência física, psicológica, estupro. Nos últimos dez anos foram registrados 1500 casos de violência no Município. E são casos que chegam ao conhecimento do serviço publico. Só casos que foram notificados, que chegaram ao conhecimento de algum serviço público. É através das fichas de notificação que o Município pega dados para se criar politicas públicas de apoio.
Se continuarmos fechando os olhos para agressores e abusadores e continuarmos culpabilizando as mulheres, as violências continuarão acontecendo. Eles existem. Afinal não há vitima se não há agressor, se não há agressor não há denúncia, não há BVO, fichas de ocorrências, não há punição nem garantia dos direitos da mulher”, enfatizou.
DESAFIO AOS HOMENS – Barbara lançou um desafio aos homens para que parem para pensar no tema lembrando que se perguntarmos para cada mulher aqui se elas podem mencionar alguma conhecida que já passou por situação de violência, em alguns segundos todas vão lembrar”.
Mas, prosseguiu, “ quero lembrar aqui nesta Câmara hoje ocupada só por homens, que essa violência ocorre simplesmente pelo fato de sermos mulheres, é em razão do gênero. Então, peço que também os homens pensem um pouquinho na imagem de um abusador, de um estuprador conhecido deles. Para os homens, dá trabalho para reconhecer um agressor, demora mais do que a mulher”.
“Qual a dificuldade que os homens tem em reconhecer abusadores”, indagou. “Será que não conhecem nenhum homem que bate na esposa, que vigia ou controla as roupas ou celular dela, que força sexo com mulher alcoolizada que não tem condições de consentir na relação naquele momento? As violências acontecem todos os dias”, denunciou a psicóloga..
E lançou o desafio para que “vocês,homens, se descolem do privilégio de serem homens e pensem na saúde mental das mulheres e se tornem aliados em nossa luta. Que ocorram mudanças de postura em todo o Município. Por quê os homens dizem não conhecer nenhum agressor? As violências acontecem todos os dias e se não enfrentarmos a violência continuará acontecendo. Nos últimos dez anos foram registrados 1500 casos de violência no Município. Casos que chegam ao conhecimento do serviço publico. Que não precisemos mais de uma semana específica para abordar o tema. Que não nos ofereçam flores no dia 08 de maio e assumam a luta. Nós nos queremos vivas”, concluiu Bárbara.