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NO VERÃO, MORADORES DE RUA E “HIPPIES” DESCEM PARA O LITORAL

NO VERÃO, MORADORES DE RUA E “HIPPIES” DESCEM PARA O LITORAL

Ricardo Hiar, para a Folha de São Paulo



Everton Machado, 23, saiu de casa há três meses por causa das drogas. De Bauru, no interior de SP, partiu com a ideia fixa de conhecer a praia. Queria o Rio, mas as amizades nas ruas e nos albergues o levaram para bem longe –até Campo Grande (MS).

No Centro-Oeste, começou a pintar o rosto e a pedir gorjetas nos semáforos. Juntou uns trocados e resolveu seguir para São Paulo ainda com um antigo objetivo na cabeça: ver o mar.

Mal chegou e, ainda na rodoviária, um colega morador de rua indicou Ubatuba. "Falaram que era uma cidade pequena, muito bonita e que tinha praia. Então, não pensei duas vezes e fui pra lá", diz à Folha, após um banho de mar em Caraguatatuba, vizinha a Ubatuba.

Everton não é um exemplo isolado. A temporada de verão, que enche de turistas as praias paulistas, atrai uma série de moradores de rua e também as versões atuais dos “hippies” que deixam São Paulo e outras cidades do Estado rumo ao litoral em busca de calor, segurança, gorjetas mais generosas e maior oferta de comida.

Trajeto a pé

Eles descem a serra de carona ou caminhando, em peregrinações que podem durar até duas semanas. Como recompensa pela jornada, esperam levar uma vida melhor nos meses em que as ruas e o comércio da praia movimentam mais dinheiro.

A reportagem conversou com alguns desses que decidiram passar essa temporada no litoral norte.

Segundo os relatos, as ruas da praia oferecem vantagens em relação à cidade grande, como menor risco de ataques na madrugada e uma temperatura mais agradável ao dormir no relento. No litoral, dizem, é mais fácil conseguir comida doada por restaurantes ou turistas.

Aldo de Jesus, 35, diz ter caminhado 15 dias para completar o trajeto entre São Paulo e Caraguatatuba. Chegou à cidade no início de janeiro para passar sua quinta temporada consecutiva na praia.

As facilidades

"Aqui é bem mais fácil conseguir comida e bebida. Também não é difícil conseguir uns trocados olhando carros", afirma o andarilho.

Também vinda de São Paulo, Amanda Lima dos Santos, 27, chegou antes do Natal à Caraguatatuba com o namorado Elvis Souza, 33, e não tem previsão de volta.

O casal dorme em quiosques da praia. "Aqui tem menos disputa para conseguir um canto para dormir e sempre tem alguém pra oferecer comida", diz Amanda.

Nem todos, porém, encontram o que procuram. Sidnei Ferreira, 53, chegou ao litoral com o objetivo de encontrar trabalho e recomeçar a vida.

Queria um emprego no qual conseguisse alojamento. Dormiu por um mês numa construção abandonada, sem água e luz, desistiu e retornou para São Paulo.

"Sou reservado, não me integrei com outras pessoas na mesma situação que a minha. Por isso, é mais difícil conseguir ficar. Não gostei da experiência e não pretendo mais arriscar a vinda pra cá." Com a ajuda da Prefeitura de Caraguatatuba, ele conseguiu passagem de ônibus para São Paulo, onde buscaria ajuda num albergue.

Ronda diária

Jaqueline de Oliveira, secretária-adjunta de Assistência Social da Prefeitura de Caraguatatuba, diz que o aumento do número de moradores de rua nesta época do ano é controlado por uma ronda diária feita por um psicólogo e um assistente social.

"Como eles [os moradores de rua] não podem ser obrigados a deixar as ruas, o serviço busca fazer o acolhimento e convencimento. Aqueles que aceitam podem voltar às suas cidades de origem."

Morador de Caraguatatuba, Sérgio Oliveira Dias, 45, reclama :"A cada ano parece que as ruas da cidade recebem mais andarilhos. Alguns já chegaram a causar problemas". A turista Isabel da Rocha, 54, diz que não se sente incomodada: "Infelizmente vamos encontrar pessoas na rua em todos os lugares. Por enquanto não atrapalha minha estadia aqui".

 

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